sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Recebi do amigo Eduardo Andrade um ótimo texto, escrito pelo ex-presidente José Sarney. Uma rápida e direta reflexão sobre a educação brasileira, que vale a pena ser publicada. Valeu Eduardo!

JOSÉ SARNEY
Nós e os macacos
NA MINHA infância, a teoria certa e acabada era que vínhamos dos macacos. Com o tempo, cresci e fui aprendendo outra teoria: que os macacos eram nossos primos, mas não nossos pais. Afinal, o certíssimo é que somos da mesma família. Agora, com a persistência dos cientistas, estamos a descobrir que esses parentes são melhores do que nós em matemática. Devem
ser, também, em outras coisas. Dos japoneses já batem na memorização seqüencial.

Tudo isso surge quando, por coincidência, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) divulga, em seu relatório sobre o desempenho do aprendizado, que os brasileiros são reprovados em matemática e ficam no ranking mundial, entre 57 países pesquisados, no 53º lugar, à frente apenas de Tunísia, Qatar e Quirguistão. E, como se isso não bastasse para ficarmos de cabeça baixa, ainda ficamos no 48º lugar em leitura, e aí, para consolo nosso, à frente de Argentina e Colômbia, que não gostam ou não querem ler.

Tenho dito sempre que o mundo do futuro não será dos países grandes ou pequenos, mas daqueles que dominarem ou não o conhecimento humano. Essa constatação já nos foi antecipada no presente pelo pequeno Japão. O grande problema que temos pela frente é realmente o da educação. Por isso vejo com
redobrada alegria a importância que está dando para o problema o atual ministro da Educação, Fernando Haddad, procurando enfrentar não só a face física da rede escolar mas, sobretudo, a qualidade do nosso ensino, cujo nível baixo é revelado em aferições nacionais e internacionais. O que nos faz ainda mais preocupados é o fato de São Paulo, Estado mais rico do mais,
apresentar índices baixos, o que exclui um vínculo entre pobreza e baixo índice educacional.

Este não é um problema conjuntural, não diz respeito a governos, mas é estrutural, vem de longe, e marca a tendência secular brasileira de preocupar-se mais com a economia do que com o saber, ao contrário do Japão da dinastia Meiji, no fim do século 19, e da Coréia, no século 20. O ministro Paulo Renato fez grande esforço para universalizar a matrícula escolar, chegando perto dos cem por cento. Mas o problema é muito complexo, envolvendo repetência, abandono da escola, analfabetismo funcional e a remuneração dos professores.

Os macacos estudiosos do Japão nos ensinam que o esforço de investir em educação pode dar resultados. E, para não falar só em macacos, as vacas, que são consideradas vilãs do aquecimento global, pela difícil digestão e grandes arrotos, agora podem melhorar essa falta de educação com uma pílula antiarroto descoberta pelo cientista alemão Dochner. Nós e os bichos, problemas e soluções.

Um comentário:

Anônimo disse...

Realmente, excelente texto reflexivo, digno de quem o escreveu. Entretanto, apesar de tão prazerosa leitura por seu rico e inteligente conteúdo, é lamentável acompannhar de perto e ser testemunha do estado deplorável que se encontra nossa educação. Como educadora, me sinto muitas vezes envergonhada de ter de encarar tudo isso. Espero que um dia bem próximo nossos governantes resolvam priorizar e valorizar a educação das nossas crianças e jovens, só assim teremos um país melhor.